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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A GERAÇÃO MIOJO


Miojo é um tipo de macarrão instantâneo, que fica pronto em três minutos, inventado por um japonês. Quando ele morreu em 2007, aos 96 anos, os usuários do produto fizeram "três minutos” de silêncio em sua homenagem. Preguiçosos, uni-vos!
Hoje há tipos humanos que se poderia chamar de "geração miojo”, pessoas que têm pressa em tudo que fazem, imediatistas e tratam tudo com uma superficialidade marcante. Têm pressa, mas não sabem para onde vão. Querem o sucesso, mas não sabem construí-lo. A felicidade não depende do que nos falta, mas do bom uso que fazemos do que temos.
Para esses, não existe mais o processo natural das coisas da vida, mas tudo é visto pelo enfoque do pragmático. Com isto, se acelera a quebra de muitos paradigmas, entre eles a ética do óbvio e o desleixo com o convívio. O pragmatismo é uma forma utilitarista de usar as coisas. Só tem valor aquilo que se pode tirar vantagens imediatas, o que é útil e que dá prazer. Dentro desse quadro a mídia noticiou que no México já se estuda a realização de casamentos com prazo de término fixado.
Hoje em dia, com a explosão dos fast-foodtudo ficou aparentemente mais prático, mas o convívio das pessoas foi para o espaço. Há cidades que não possuem um teatro ou uma biblioteca decente, mas possuem mais de um fast-food. Vai-se a essas lanchonetes modernas –em geral sob o impulso da ditadura infantil (os filhos impõem onde a família vai comer)– e nem se pede mais a comida pelo nome, mas por um número. A refeição vem num saco de papel ou em uma caixa de papelão. Ora, comida em saco é para cachorro e em caixa é para passarinho.
Antigamente a gente ia almoçar fora; levava uma hora para vir o alimento. Era um acontecimento! O bom do "comer fora” não é tanto a comida em si, mas a espera, o bate-papo, o convívio. Hoje muitos têm saudade do alimento feito em casa: vão aos restaurantes para comer "comida caseira”. Esta é uma das paranoias do século XXI.
Comer miojo não indica apenas a pessoa preguiçosa, mas revela um estilo apressado e provisório... Buscamos a cultura do miojo para tudo: na escola, na família, no amor, na amizade, no sexo. É tudo rápido, prático e descartável, mesmo que não seja tão bom. Nessa filosofia do provisório surgem as práticas de consumo. Os objetos, bens de uso, roupas, etc. são vistosos, mas de pouca duração. Bonitinhos mas ordinários.
As causas da depressão infantil, em geral estão no ambiente familiar desequilibrado. Crianças que vivem em carência afetiva tendem a ter depressão. Muitos têm como objetivo, o gozar a vida. E cabe perguntar: Você é totalmente feliz assim? A resposta, invariavelmente é não, devido à transitoriedade desse gozo.
Filosofar é indagar, é criar uma forma de pensamento que vá além do óbvio, é descobrir as coisas que estão além daquilo que aparentam ser. O mundo hoje, os sistemas gostam de apresentar pratos prontos, coisas acabadas, dogmatizadas, como um miojo: é só jogar na água quente e polvilhar com o molho que vai dar o sabor padrão.
Enquanto comida, embora apresentem uma variedade de opções que vai do frango à carne, calabresa e vegetais, todos os mijos tem o mesmo sabor. Assim é a vida de alguns: pensam que assumem opções, mas no fim fica tudo igual, sem muita chance de escolha. François Rabelais advertiu seus pares sobre o perigo de "... muitos que não puderam quando queriam, porque não quiseram quando deviam”. Esse alerta ressoa em nossos ouvidos moucos até hoje. Sua vida e seu mundo mudam quando você muda. Caso contrário, tudo recai naquela angústia existencial que Sartre chamou de náusea Por esta razão os consultórios dos analistas e as ruas estejam cheias de pessoas desestruturadas, sem identidade, e deprimidas. A capacidade de comprar bens, de consumir e de estar sempre com presas não as faz felizes.
O pequeno personagem de Exupéry reclama, em um de seus mais expressivos diálogos que os homens se acostumaram a comprar tudo pronto, por isso não tem amigos, pois não se vendem amigos em lojas...

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Antônio Mesquita Galvão
Doutor em Teologia Moral

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