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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O BRASIL PRECISA DE PROPAGANDAS DESSE TIPO (Vídeo 1)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Carta de Michael Moore aos estudantes de Wisconsin

Caros Estudantes:

Que inspiração, a de vocês, que se uniram aos milhares de estudantes das escolas de Wisconsin e saíram andando das salas de aula há quatro dias e agora estão ocupando o prédio do State Capitol e arredores, em Madison, exigindo que o governador pare de assaltar os professores e outros funcionários públicos !

Tenho de dizer que é das coisas mais entusiasmantes que vi acontecer em anos.

Vivemos hoje um fantástico momento histórico. E aconteceu porque os jovens em todo o mundo decidiram que, para eles, basta. Os jovens estão em rebelião – e é mais que hora!

Vocês, os estudantes, os adultos jovens, do Cairo no Egito, a Madison no Wisconsin, estão começando a erguer a cabeça, tomar as ruas, organizar-se, protestar e recusar a dar um passo de volta para casa, se não forem ouvidos. Totalmente sensacional!!

O poder está tremendo de medo, os adultos maduros e velhos tão convencidos que que fizeram um baita trabalho ao calar vocês, distraí-los com quantidades enormes de bobagens até que vocês se sentissem inpotentes, mais uma engrenagem da máquina, mais um tijolo do muro. Alimentaram vocês com quantidades absurdas de propaganda sobre “como o sistema funciona” e mais tantas mentiras sobre o que aconteceu na história, que estou admirado de vocês terem derrotado tamanha quantidade de lixo e estejam afinal vendo as coisas como as coisas são.

Fizeram o que fizeram, na esperança de que vocês ficariam de bico fechado, entrariam na linha e obedeceriam ordens e não sacudiriam o bote. Porque, se agitassem muito, não conseguiriam arranjar um bom emprego! Acabariam na rua, um freak a mais. Disseram que a política é suja e que um homem sozinho nunca faria diferença.

E por alguma razão bela, desconhecida, vocês recusaram-se a ouvir. Talvez porque vocês deram-se conta que nós, os adultos maduros, lhes estamos entregando um mundo cada vez mais miserável, as calotas polares derretidas, salários de fome, guerras e cada vez mais guerras, e planos para empurrá-los para a vida, aos 18 anos, cada um de vocês já carregando a dívida astronômica do custo da formação universitária que vocês terão de pagar ou morrerão tentando pagar.

Como se não bastasse, vocês ouviram os adultos maduros dizer que vocês talvez não consigam casar legalmente com quem escolherem para casar, que o corpo de vocês não pertence a vocês, e que, se um negro chegou à Casa Branca, só pode ter sido falcatrua, porque ele é imigrado ilegal que veio do Quênia.

Sim, pelo que estou vendo, a maioria de vocês rejeitou todo esse lixo. Não esqueçam que foram vocês, os adultos jovens, que elegeram Barack Obama. Primeiro, formaram um exército de voluntários para conseguir a indicação dele como candidato. Depois, foram as urnas em números recordes, em novembro de 2008. Vocês sabem que o único grupo da população branca dos EUA no qual Obama teve maioria de votos foi o dos jovens entre 18 e 29 anos? A maioria de todos os brancos com mais de 29 anos nos EUA votaram em McCain – e Obama foi eleito, mesmo assim!

Como pode ter acontecido? Porque há mais eleitores jovens em todos os grupos étnicos – e eles foram às urnas e, contados os votos, viu-se que haviam derrotado os brancos mais velhos assustados, que simplesmente jamais admitiriam ter no Salão Oval alguém chamado Hussein. Obrigado, aos eleitores jovens dos EUA, por terem operado esse prodígio!

Os adultos jovens, em todos os cantos do mundo, principalmente no Oriente Médio, tomaram as ruas e derrubaram ditaduras. E, isso, sem disparar um único tiro. A coragem deles inspira outros. Vivemos hoje momento de imensa força, nesse instante, uma onda empurrada por adultos jovens está em marcha e não será detida.

Apesar de eu, há muito, já não ser adulto jovem, senti-me tão fortalecido pelos acontecimentos recentes no mundo, que quero também dar uma mão.

Decidi que uma parte da minha página na Internet será entregue aos estudantes de nível médio para que eles – vocês – tenham meios para falar a milhões de pessoas. Há muito tempo procuro um meio de dar voz aos adolescentes e adultos jovens, que não têm espaço na mídia-empresa. Por que a opinião dos adolescentes e adultos jovens é considerada menos válida, na mídia-empresa, que a opinião dos adultos maduros e velhos?

Nas escolas de segundo grau em todos os EUA, os alunos têm ideias de como melhorar as coisas e questionam o que veem – e todas essas vozes e pensamentos são ou silenciadas ou ignoradas. Quantas vezes, nas escolas, o corpo de alunos é absolutamente ignorado? Quantos estudantes tentam falar, levantar-se em defesa de uma ou outra ideia, tentar consertar uma coisa ou outra – e sempre acabam sendo vozes ignoradas pelos que estão no poder ou pelos outros alunos?

Muitas vezes vi, ao longo dos anos, alunos que tentam participar no processo democrático, e logo ouvem que colégios não são democracias e que alunos não têm direitos (mesmo depois de a Suprema Corte ter declarado que nenhum aluno ou aluna perde seus direitos civis “ao adentrar o prédio da escola”).

Sempre fico abismado ao ver o quanto os adultos maduros e velhos falam aos jovens sobre a grande “democracia” dos EUA. E depois, quando os estudantes querem participar daquela “democracia”, sempre aparece alguém para lembrá-los de que não são cidadãos plenos e que devem comportar-se, mais ou menos, como servos semi-incapazes. Não surpreende que tantos jovens, quando se tornam adultos maduros, não se interessem por participar do sistema político – porque foram ensinados pelo exemplo, ao longo de 12 anos da vida, que são incompetentes para emitir opiniões em todos os assuntos que os afetam.

Gostamos de dizer que há nos EUA essa grande “imprensa livre”. Mas que liberdade há para produzir jornais de escolas de segundo gráu? Quem é livre para escrever em jornal ou blog sobre o que bem entender? Muitas vezes recebo matérias escritas por adolescentes, que não puderam ser publicadas em seus jornais de escola. Por que não? Porque alguém teria direito de silenciar e de esconder as opiniões dos adolescentes e adultos jovens nos EUA?

Em outros países, é diferente. Na Áustria, no Brasil, na Nicarágua, a idade mínima para votar é 16 anos. Na França, os estudantes conseguem parar o país, simplesmente saindo das escolas e marchando pelas ruas.

Mas aqui, nos EUA, os jovens são mandados obedecer, sentar e deixar que os adultos maduros e velhos comandem o show.

Vamos mudar isso! Estou abrindo, na minha página, um “JORNAL DA ESCOLA” [orig. "HIGH SCHOOL NEWSPAPER", em http://mikeshighschoolnews.com/]. Ali, vocês podem escrever o que quiserem, e publicarei tudo. Também publicarei artigos que vocês tenham escrito e que foram rejeitados para publicação nos jornais das escolas de vocês. Na minha página vocês serão livres e haverá um fórum aberto, e quem quiser falar poderá falar para milhões.

Pedi que minha sobrinha Molly, de 17 anos, dê o pontapé inicial e cuide da página pelos primeiros seis meses. Ela vai escrever e pedirque vocês mandem suas histórias e ideias e selecionará várias para publicar em MichaelMoore.com. Ali estará a plataforma que vocês merecem. É uma honra para mim que se manifestem na minha página e espero que todos aproveitem.

Dizem que vocês são “o futuro”. O futuro é hoje, aqui mesmo, já. Vocês já provaram que podem mudar o mundo. Aguentem firmes. É uma honra poder dar uma mão.

Tradução: Vila Vudu

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O FSM depois de Dakar: entre a necessidade e a realidade


O Fórum Social Mundial (FSM) concluiu sua última edição em Dakar (Senegal). Cerca de 75 mil pessoas - um número muito importante – ligadas a organizações e movimentos sociais de todo o planeta participaram, de 6 a 11 de fevereiro, de um processo/evento que se afirma imprescindível no marco da atual crise sistêmica, como espaço de encontro e de articulação de redes, mas que mostra também seus limites e debilidades.

A presente edição do FSM foi realizado em um contexto inegável de aprofundamento da crise de caráter estrutural, depois da última edição ter sido realizada em Belém (Brasil), em janeiro de 2009, meses depois do estouro da mesma. A atual conjuntura põe sobre a mesa a urgência de espaços que permitam a coordenação de lutas, avançar em estratégias de ação em escala global e que visualizem que outro mundo é tão necessário quanto possível.

O Fórum Social Mundial cumpriu com o objetivo de se mostrar como uma vitrina, uma praça, das alternativas, um ponto de encontro de uma grande diversidade política e temática de coletivos, majoritariamente africanos e muitos europeus. A presença da América Latina e da Ásia, logicamente, foi mais débil. E ofereceu um espaço indispensável para a urgente organização das resistências coletivas que tiveram sua máxima visualização nas quase quarenta assembleias de convergências de grupos, redes e coletivos realizadas e, sobretudo, na multitudinária Assembleia dos Movimentos Sociais, com mais de 3 mil participantes, e que se converteu em uma das atividades centrais e mais visíveis do Fórum.

Uma Assembleia que refirmou seu compromisso com o combate contra o capitalismo e que aprovou um calendário de mobilização com as datas centrais de 20 de março, quando será realizada uma jornada internacional de solidariedade com as revoluções no mundo árabe, e 12 de outubro, como dia de ação global contra o capitalismo. Além disso, a geração de espaços de trabalho e confluência antes e durante o FSM permitiram também o encontro, o debate e a coordenação de redes e organizações.

Em Dakar vimos desde grandes conferências do movimento altermundista até pequenas oficiais e lutas anônimas, todas elas imprescindíveis neste complexo combate por “outro mundo possível”. As pequenas manifestações e propostas improvisadas que percorreram o campus da Universidade Cheikh Antha Diop, onde ocorreu o evento, expressaram a necessidade de vincular ação e reflexão. A chamada “aldeia dos movimentos sociais”, com tendas de mulheres, camponeses, produtores, imigrantes, etc., foi um dos espaços que melhor funcionaram com atividades, restaurantes populares e serviços “non stop”.

O FSM em Dakar foi também um passo adiante muito importante em relação à última edição do Fórum Social Mundial na África, em Nairobi, em janeiro de 2007. Se aquela, podemos afirmar, foi a edição mais controversa do FSM com entradas a um preço inacessível para a população local, patrocínio de multinacionais, etc., a edição senegalesa não repetiu tais erros e o perfil geral do Fórum foi combativo.

O processo de construção do FSM Dakar contou com o trabalho e o esforço que algumas redes, como o CADTM África, entre outras, realizaram para mobilizar coletivos sociais de base da África Ocidental e da capital senegalesa. Neste sentido, foi organizada uma caravana, nos dias prévios ao evento, que percorreu vários países da região, divulgando o processo e agregando novos participantes ao evento, dinamizando atividades ligadas
ao FSM como concertos e outras atrações, nos bairros periféricos e mais pobres de Dakar.

O Fórum Social Africano, por sua parte, a versão regional do Fórum Social Mundial e um ator importante em sua organização, conta com uma sobre representação de ONGs do continente em detrimento de redes e movimentos sociais, muito fracos na região, o que explicaria, em parte, que estes tivessem uma menor presença em Dakar.

Uma situação que se repete no Conselho Internacional, organismo de direção do FSM, com um desequilíbrio importante entre ONGs e redes sociais, que nos últimos anos têm diminuído seu perfil e presença no Conselho e, consequentemente, sua influência. Se considerarmos que o Fórum Social Mundial será útil desde que sirva aos interesses destes movimentos e aos processos de transformação sócio-políticos, sua perda de influência deveria ser um elemento a se levar em conta.

Em nível organizativo, a presente edição mostrou debilidades importantes. Começando pelo caos organizativo vivenciado no primeiro dia do FSM, quando as atividades previstas não traziam as salas assinaladas e se desconhecia onde se organizavam as mesmas, problema que prosseguiu, ainda que em menor escala, durante todo o evento. Outro problema foi a falta de um programa facilmente acessível com as atividades diárias. Outro ainda foi o preço da comida, muito superior ao praticado localmente, o que despertou fortes críticas, sobretudo entre os participantes africanos.

Segundo explicaram os organizadores, o caos inicial se deveu ao fato de que o governo substituiu o reitor com quem tinham sido estabelecidos os acordos de cessão de salas de aulas e o novo dirigente não reconheceu os mesmos, não deixou espaços livres nem suspendeu as aulas, conforme havia sido acordado. Em consequência, os organizadores que tinham atividades previstas tiveram que alugar novos espaços na cidade ou ocupar tendas ou salas vazias na universidade.

Desde modo, o FSM foi realizado em uma universidade repleta de estudantes que incialmente olhavam com receio aos altermundistas que ocupavam seu recinto, já que ninguém havia lhes informado do encontro. Depois vários destes mesmos estudantes acabaram se somando ao Fórum e inclusive alguns, como o chamado movimento de estudantes “não orientados”, segregados por suas origens humildes e que lutam pelo acesso a uma universidade teoricamente pública, mas na prática não acessível a todo mundo, se somaram ao evento com seu protesto.

No plano político, é necessário assinalar o boicote sistemático às atividades do povo saharaui realizado por uma parte da delegação marroquina, financiada diretamente pelo governo do Marrocos, e integrada, como denunciaram membros do CADTM e do ATTAC Marrocos, por pessoas que não tinham nada a ver com coletivos e movimentos sociais. Agressões, insultos e boicote aos seminários e intervenções dos participantes saharauis foram a estratégia adotada. Vários participantes do FSM denunciaram os fatos e organizaram uma manifestação improvisada no campus da universidade, onde participaram vários membros do CADTM e do ATTAC Marrocos que denunciaram a má imagem que estas práticas estavam dando aqueles participantes e organizações sociais marroquinas que nada tinham a ver com estes fatos. Frente a esses acontecimentos, um posicionamento enérgico do Comitê Organizador do FSM seria mais do que necessário.

Outra debilidade política a assinalar foi que, apesar de as revoltas sociais na Tunísia e no Egito terem uma presença transversal e estarem muito presentes no cotidiano dos ativistas que estavam na expectativa sobre a queda de Mubarak, estes processos revolucionários no norte da África não tiveram uma centralidade política à altura do que significam tanto para o continente como em nível mundial. As lições do levante do povo tunisiano e do povo egípcio deveriam ter sido o leitmotiv deste Fórum Social Mundial.

Mas, em geral, os limites do FSM são também os limites do período, de dificuldade para transcender os núcleos ativistas e chegar a novos atores sociais. O Fórum passou praticamente em branco pela cidade de Dakar.

Em nível internacional, a falta de uma dinâmica de mobilização que que faça o movimento andar para a frente é uma das grandes debilidades que enfrenta o processo do FSM ao apresentar-se como um espaço de referência, plural e diverso, em contexto no qual não ocorrem protestos importantes coordenados em escala global. Com o que, a falta de pressão vinda das bases, da ação, poderia empurrar o Fórum para posições mais institucionais. O FSM já não tem a centralidade que teve em seu início, na fase do ascenso do movimento altermundista, ainda que sua importância seja importante como um marco geral de trabalho e encontro, sempre e quando se mantenha em sintonia com as lutas sociais.

Outros debates e contradições desafiam o Fórum Social Mundial: como integrar e/ou visualizar os processos de resistência em escala global com um encontro das características do FSM? Como manter este espaço como uma referência útil para a transformação política e social em um contexto carente de vitórias concretas? O viés entre necessidade e realidade é ainda muito grande.

O Fórum Social Mundial se situa em um frágil equilíbrio entre o global e o local, entre ONGs e movimentos sociais, entre institucionalização e autogestão, etc. Trata-se de uma tensão constante. Nairobi, em 2007, nos mostrou a pior cara do FSM; Mumbai, em 2004, uma das melhores. A chave é não esquecer a quem e para que serve o Fórum Social Mundial: um contraponto que deveria ser incompatível com o capitalismo global.

O artigo é de Esther Vivas.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A professora Ângela Soligo está com toda razão: "Educação ainda não é a grande meta de nossos governantes"


A educação a distância é uma das muitas possibilidades de uso de recursos tecnológicos e não pode mais ser considerada uma novidade.

Desde os anos 80, no Brasil, discute-se sua perspectiva em consonância com experiências de outros países. Argumenta-se que ela amplia o acesso às universidades, principalmente as públicas, da população que trabalha e/ou cuida da família. Também ajuda alunos que enfrentam dificuldade de transporte para chegar à escola. O morador de uma região afastada no Amazonas, por exemplo, é favorecido.

Por outro lado, argumenta-se que identidade profissional não se forma a distância. Não há um convívio com a vida acadêmica, que inclui debates e reflexões, diálogo direto entre colegas e professores, participação em movimentos estudantis e presença em bibliotecas, laboratórios, salas de vivência etc.

A identidade profissional é uma trama cognitivo-afetiva complexa, que resulta dessa rede de relações. Tal identidade implica uma presencialidade que o ensino à distância não oportuniza.

Outra preocupação refere-se às desigualdades entre os programas presenciais e os programas a distância. A experiência já mostrou que não é possível fazer uma transposição simples de conteúdos.

Textos precisam ser adaptados ao formato virtual. Não se pode garantir, ainda, equidade de nível entre os dois formatos, e não temos experiências comprovadamente bem sucedidas nesse campo.

Chama a atenção, portanto, o fato de uma estratégia de aprendizagem com adequação e eficácia não comprovadas ter sido transformada em política pública voltada quase exclusivamente à formação de professores.

Não há dúvidas de que o país precisa ampliar o número de docentes para a educação básica. Mas o país também carece de médicos, e não me consta que tenhamos uma política oficial de formação de médicos a distância.

Isso expõe um fato: educação ainda não é a grande meta de nossos governantes.


(Ângela Soligo é professora da Faculdade de Educação da Unicamp. Folha de SP, 4/2)