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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

FELIZ 2011 A TODOS

Como não posso dar um abraço em cada um, quero expressar o meu abraço virtual a todos os meus filhos e colegas, onde quer que estejam, desejando-lhe tudo o que há de melhor nesse possível 2011 que começa daqui a pouco.

Saúde a todos...

Nonato

sábado, 25 de dezembro de 2010

POLITICAMENTE CORRETO É O CACETE...


O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA
 
                          (escrito por Luiz Antônio Simas)
 

Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto.  Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada". 

Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha.  Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?

É Villa Lobos, cacete!

Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/  Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.

Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é  Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.

Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. Ninguém  mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.

Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual,  Pai Google da Aruanda] foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato,  era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.

Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado ? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.

Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de deficiente vertical . O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.

Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.

O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra putaqueopariu e o centroavante pereba tomar no olho do cu, cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.

Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova,  aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá,  já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".

Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não. Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do Pé Junto.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

ONDE SE VÊ O POR DO SOL MAIS BONITO DA PARAÍBA?

QUAL É MESMO O POR DO SOL MAIS BONITO DA PARAÍBA?

QUER VER UM POR DO SOL DE VERDADE? 
VÁ A CIDADE DE PATOS, SUBA A SERRA DE TEIXEIRA
E PARE NA PEDRA DO TENDÓ.

VEJAM O QUE EU VI:
 










ESTE É OU NÃO É UM POR DO SOL QUE SE PODE CHAMAR DE BONITO?
É OU NÃO É O NÚMERO 1 DA PARAÍBA?

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

USA: quanto pior melhor...


A farsa de Cancún, artigo de Luiz Pinguelli Rosa

"A intervenção de Lula anunciando as metas voluntárias do Brasil e cobrando ações dos países desenvolvidos contribuiu para abortar o enterro de Kyoto em Copenhague"

Luiz Pinguelli Rosa é diretor da Coppe/UFRJ e secretário do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. Artigo publicado em "O Globo":
          
Voltei da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, em Cancún, convencido de que seus resultados foram medíocres. Na conferência permaneceu o impasse entre os países desenvolvidos, que queriam o fim do Protocolo de Kyoto, já que muitos não o estão cumprindo, e o conjunto dos países em desenvolvimento, destacando-se China e Índia pelo crescimento do consumo de combustíveis, embora muito baixo per capita.
Para o meu espanto, de um dia para o outro a conferência apareceu como um evento exitoso, de acordo com declarações publicadas na mídia internacional e nacional. Resolvi então verificar se algo importante tinha escapado do meu conhecimento, mas ao ler as resoluções finais mantive a mesma opinião: nada há a comemorar.
O verniz aplicado para dar à conferência a aparência de sucesso na 25ª hora deve-se ao fato de ter sido bloqueada a definição do 2º período de compromisso do Protocolo de Kyoto. Isso era tudo o que queriam os países mais ricos incluídos no Anexo I da Convenção de Mudanças Climáticas, de acordo com o princípio da responsabilidade comum, porém diferenciada, estabelecido na Rio 92.
Na reunião de Cancún, o Brasil e o Reino Unido foram incumbidos de fazer consultas aos representantes dos países sobre o novo período de compromisso do Protocolo de Kyoto. Ouvi por duas vezes da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que conduziu as consultas pessoalmente com apoio do Itamarati, uma avaliação com certo otimismo, embora alertando que o Japão ameaçava sair do Protocolo seguindo o mau exemplo dos Estados Unidos, que jamais o ratificou. O Canadá caminhava no mesmo sentido. Em entrevista, no fim do evento, a própria ministra deu uma nota medíocre à Conferência: 7,5.
Na reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, no Palácio do Planalto, poucas semanas antes de Cancún, o presidente Lula declarou que no encontro com chefes de Estado do mundo inteiro na Conferência do Clima de 2010, em Copenhague, os países ricos queriam tão somente acabar com o compromisso de Kyoto. A intervenção de Lula anunciando as metas voluntárias do Brasil e cobrando ações dos países desenvolvidos contribuiu para abortar o enterro de Kyoto em Copenhague.
No México foram aprovadas medidas pontuais como um Fundo Verde, o financiamento pelos países desenvolvidos para mitigação e adaptação e compensações pela redução de desmatamento. Embora se reitere o limite de 2º C no aumento da temperatura global até o fim do século, não se estabeleceu como isso pode ser obtido, pois nenhuma meta foi definida. Ficou para ser deliberado na conferência da África do Sul, em 2011.
O fracasso de Cancún transformado em êxito parece um fenômeno psicossocial em que todos se convencem de que algo ocorreu sem que isso retrate a realidade dos fatos. Me fez lembrar uma peça de Eugene Ionesco, na qual um rinoceronte aparece em uma cidadezinha e, sem lógica alguma, todos vão adquirindo as feições de rinoceronte. Foi assim que muitos voltaram do México, como os rinocerontes de Ionesco, repetindo que a conferência foi um êxito.
(O Globo, 20/12)

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

COMO SÃO TRATADOS OS DEFICIENTES FÍSICOS NOS ÓRGÃOS DO ESTADO BRASILEIRO

PESQUISA- Preconceito afeta 77% das pessoas com deficiência


Publicado em 14.12.2010


RIO – Pessoas com deficiência não têm seus direitos respeitados no País: é a opinião de 77% dos 1.165 portadores de deficiência entrevistados em uma pesquisa sobre a condição de vida dos deficientes no Brasil, feita pelo DataSenado, entre 28 de outubro e 17 de novembro. O estudo foi elaborado a partir do cadastro do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), com 10.273 registrados. “As pessoas se sentem sem acesso aos serviços, desrespeitadas no seu direito de ir e vir. O importante é que estão percebendo isso. Porque o preconceito ficou tão natural, como quando um deficiente físico é carregado para entrar no ônibus que não tem elevador, que as pessoas não percebem como preconceito”, observa a superintendente do IBDD, Teresa Costa D’Amaral.
A pesquisa mostra que prédios públicos estão mais adaptados (18% responderam que a maioria tem acesso) do que os comerciais (12% de respostas favoráveis). Mas as ruas e calçadas são o grande entrave para a locomoção – 87% disseram que poucas ruas ou nenhuma via está adaptada na sua cidade. Quatro em cada dez entrevistados deixaram de ir a algum lugar porque a estrutura física não estava adaptada.
Essa falta de adaptação também compromete o lazer – 64% dos deficientes físicos e 51% dos cegos gostariam de praticar esportes, mas não podem por falta de acesso, 25% dos surdos gostariam de ir ao teatro, e 23% dos deficientes visuais iriam ao cinema, se as salas fossem adaptadas.
O estudo aponta ainda que falta atuação mais firme do Estado na prevenção e tratamento aos deficientes – 64% consideraram que a prevenção de doenças que leva a deficiências são pouco eficientes. “A pesquisa mostra que os deficientes auditivos se sentem mais discriminados. Eles ficam mais isolados”, afirma Teresa. “Hoje uma prótese auditiva leva três anos para ser concedida. Quando a criança recebe, passou o primeiro momento da comunicação. Ela já fica com defasagem. É o total desrespeito.”
De acordo com o levantamento, 43% disseram se sentir discriminados no ambiente de trabalho – e o índice chega a 63% ente os surdos e 44% entre os cegos.
Valéria de Almeida Fraga, 28 anos, já sofreu com preconceito por ser deficiente. Ao se candidatar a uma vaga em uma empresa logística, ela foi entrevistada por telefone, respondeu um questionário por e-mail e quando finalmente foi chamada para ocupar a vaga soube que o fato de ser paraplégica – tem parte da perna esquerda amputada – a impediria de ocupar o posto. “Alegaram que a vaga para deficientes estava preenchida”, explica ela, até hoje ainda sem emprego.
Dos entrevistados, 759 são deficientes físicos, 170 visuais e 236 auditivos. A pesquisa foi feita por telefone. Surdos responderam por e-mail, depois de receberem mensagem com um filme explicativo sobre o estudo, com intérprete da linguagem de sinais. “Queríamos que ficasse o mais parecido possível com a entrevista por telefone”, explica Teresa.

Fonte:
http://www.incluipe.com.br/admin/noticias/pesquisa-preconceito-afeta-77-das-pessoas-com-deficiencia
Data: 17/12/2010; 19:11:33

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O que significa Ubuntu?


Ser por meio dos outros: o ubuntu como cuidado e partilha

Para o ethos do ubuntu, uma pessoa não só é uma pessoa por meio de outras pessoas, mas também por meio de todos os seres do universo. Cuidar “do outro”, portanto, também implica o cuidado para com a natureza (o meio ambiente) e os seres não humanos, afirma o filósofo e psicólogo sul-africano Dirk Louw

Por: Por Moisés Sbardelotto | Tradução Luís Marcos Sander

Não apenas ser porque tu és, mas também ser por meio de ti: essa é, em resumo, a ética ubuntu, segundo Dirk Louw, psicólogo e filósofo da África do Sul. Por isso, afirma, “ser humano significa ser por meio de outros”, sejam estes vivos ou mortos, humanos ou não.


Em um sentido mais geral, ubuntu também “significa simplesmente compaixão, calor humano, compreensão, respeito, cuidado, partilha, humanitarismo ou, em uma só palavra, amor”, explica
Louw, nesta entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.


Por isso, para
Louw, os recentes episódios políticos da sociedade sul-africana, como a superação do apartheid, foi primordialmente “o resultado do surgimento de um ethos de solidariedade, um compromisso com a coexistência pacífica entre sul-africanos comuns a despeito de suas diferenças”.
Louw indica ainda que “o ubuntu é resilientemente religioso”, já que “não só os vivos devem compartilhar e cuidar uns dos outros, mas os vivos e os mortos dependem uns dos outros”. Nesse sentido, afirma, “o conceito africano de comunidade inclui toda a humanidade. Todos nós (isto é, os vivos e os mortos-vivos ou ancestrais) somos família”. E não só: por ter nascido em um pensamento holístico como o africano, o ethos do ubuntu afirma que uma pessoa não só é uma pessoa por meio de outras pessoas, mas também é uma pessoa por meio de todos os seres do universo, incluindo a natureza e os seres não humanos, explica Louw.Dirk J. Louw é psicólogo clínico da província de Limpopo e ex-professor de filosofia da University of the North, na África do Sul. Estudou na Universidade de Utrecht, na Holanda, na Universidade da África do Sul e na Stellenbosch University, também na África do Sul. É pesquisador da pesquisador da Universidade de Joanesburgo e do Centro de Ética Aplicada da Stellenbosch University e membro do Institute of Transpersonal Psychology. É membro fundador da South African Philosopher Consultants Association, ex-membro do comitê executivo da Sociedade Filosófica da África do Sul e ex-editor do South African Journal of Philosophy. Entre suas publicações, destacamos seu livro Ubuntu and the Challenges of Multiculturalism in Post-apartheid South Africa (Center for Southern Africa, Utrecht University, 2001) e seu artigo Ubuntu: An African Assessment of the Religious Other.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – O que significa ubuntu? Quais são as noções centrais para essa filosofia e estilo de vida?

Dirk Louw –
O sentido de ubuntu está resumido no tradicional aforismo africano “umuntu ngumuntu ngabantu” (na versão zulu desse aforismo), que significa: “Uma pessoa é uma pessoa por meio de outras pessoas”, ou “eu sou porque nós somos”. Ser humano significa ser por meio de outros. Qualquer outra forma de ser seria “des-umana” no duplo sentido da palavra, isto é, “não humano” e “desrespeitoso ou até cruel para com os outros”. Essa é, grosso modo, a forma como a ética ubuntu africana descreve e também prescreve o ser humano.
 Em um sentido estritamente tradicional ou, se se preferir, religioso, ubuntu significa que só nos tornamos uma pessoa ao ser introduzidos ou iniciados em uma tribo ou em um clã específicos. Nesse sentido, “tornar-se uma pessoa por meio de outras pessoas” implica em passar por vários estágios, cerimônias e rituais de iniciação prescritos pela comunidade.
 Entretanto, em um sentido comum ou, se se preferir, secular, ubuntu significa simplesmente compaixão, calor humano, compreensão, respeito, cuidado, partilha, humanitarismo ou, em uma só palavra, amor.

IHU On-Line – Como o ubuntu se relaciona com a história e a cultura africanas? Quais são as suas fontes?

Dirk Louw –
As questões referentes às fontes do ubuntu e à sua relação com a história e a cultura africanas são controversas. Alguns pesquisadores sustentam que o ubuntu tem sido comunicado por meio de histórias de geração a geração desde tempos imemoriais, e que as articulações africanas dos valores do cuidado e da partilha são muito mais antigas do que suas articulações ocidentais – ou até que as articulações ocidentais têm suas raízes nas articulações africanas. Outros pesquisadores parecem sugerir que o ubuntu não passa de uma cortina de fumaça autofabricada para as atrocidades cometidas por africanos no passado e no presente.
 Então, o ubuntu existe? Os africanos de fato seguem o ubuntu? Essa pergunta merece mais atenção do que é possível aqui. Entretanto, ao menos quatro observações parecem apropriadas. Em primeiro lugar, afirmar que o ubuntu existe não significa necessariamente sustentar que a compaixão que ele expressa prevalece ou prevaleceu sempre e em toda parte nas sociedades africanas. É claro que não prevaleceu nem prevalece. Contudo, depois que se conseguir olhar para além das manchetes populares, podem-se detectar os mais anônimos atos de compaixão entre os africanos. Para citar apenas um exemplo: a transição relativamente não violenta da sociedade sul-africana, que passou de um Estado totalitário para uma democracia multipartidária, não foi meramente o resultado das negociações transigentes de políticos. Ela foi também – e talvez primordialmente – o resultado do surgimento de um ethos de solidariedade, um compromisso com a coexistência pacífica entre sul-africanos comuns a despeito de suas diferenças.
 Em segundo lugar, embora talvez se duvide da existência do ubuntu como uma realidade plenamente vivida, dificilmente se pode negar a sua existência como um conceito, narrativa ou mito proeminente na África e certamente no sul da África. Chamar a ética ubuntu de “mito” não significa negar sua “verdade factual” – embora o termo seja muitas vezes usado neste sentido. A palavra “mito”, da forma como é usada aqui, descreve a ética ubuntu como uma história duradoura que – independentemente de sua “verdade factual” – inspira moralmente e revela o sentido (isto é, a relevância ou importância) da vida para as pessoas que participam dela, ou seja, que contribuem para contá-la e recontá-la.

Em terceiro lugar (ou formulando as duas primeiras observações de forma diferente), antes de começar a negar ou afirmar a existência de algo, seria de bom alvitre se envolver em análises conceituais relevantes. O que exatamente está sendo negado ou reafirmado? Neste caso: o que exatamente se quer dizer com “ubuntu” ou “existe”? Finalmente, mesmo afirmando a existência do ubuntu, deve-se cuidar para não exagerar a influência normativa da ética africana tradicional nas comunidades africanas.

IHU On-Line – Qual a relação entre o ubuntu e a religião? Como a ética ubuntu pode ajudar a melhor desenvolver um verdadeiro diálogo inter-religioso?

Dirk Louw –
O ubuntu é resilientemente religioso. Para um ocidental, a máxima “Uma pessoa é uma pessoa por meio de outras pessoas” não tem conotações religiosas óbvias. Ele provavelmente a interpretará apenas como um apelo geral para tratar as outras pessoas com respeito e decência.

Na tradição africana, entretanto, essa máxima tem um sentido profundamente religioso. A pessoa que devemos nos tornar “por meio de outras pessoas” é, em última análise, um ancestral. E, da mesma forma, essas “outras pessoas” incluem os ancestrais. Os ancestrais são a família extensa. Morrer é um último voltar para casa. Por conseguinte, não só os vivos devem compartilhar e cuidar uns dos outros, mas os vivos e os mortos dependem uns dos outros.

A ética ubuntu ajuda a melhor desenvolver um diálogo inter-religioso verdadeiro condensando precondições vitais para esse diálogo. Essas precondições incluem um respeito pela religiosidade, individualidade, particularidade e historicidade ou natureza processual dos outros, assim como a valorização do consenso ou do acordo.

IHU On-Line – O que o ethos do ubuntu tem a ensinar às outras tradições, culturas e religiões não africanas? Que aspectos o ubuntu pode ajudar a aprimorar na ética ocidental?

Dirk Louw –
Permita-me reformular ligeiramente essas perguntas: o ethos do ubuntu é unicamente africano? O ubuntu só faz parte da herança cultural africana? Seria etnocêntrico e absurdo sugerir que a ética ubuntu de cuidado e partilha é unicamente africana. Afinal de contas, os valores que o ubuntu procura promover também podem ser identificados em várias filosofias da Eurásia. Isso não significa negar a intensidade com que esses valores são expressos pelos africanos. Mas o mero fato de serem expressos intensamente por africanos não torna, por si só, esses valores exclusivamente africanos.

Entretanto, embora a compaixão, o calor humano, a compreensão, o cuidado, a partilha, o humanitarismo etc. sejam sublinhados por todas as principais cosmovisões, ideologias e religiões do mundo, eu gostaria, no entanto, de sugerir que o ubuntu atua como uma justificação distintivamente africana dessas formas de se relacionar com os outros. O conceito de ubuntu dá um sentido distintivamente africano e uma razão ou motivação distintivamente africanas para uma atitude amorosa para com o outro.

O que, então, o ethos do ubuntu tem a “ensinar” às tradições, culturas e religiões não africanas (incluindo as ocidentais)? Ele pode servir como um importante incentivo para reavaliar o “ser por meio de outros” em tradições, culturas e religiões não africanas, para reenfatizar os imperativos do cuidado e da partilha com os outros.

IHU On-line – Qual a importância da comunidade e da família para a ética ubuntu?

Dirk Louw –
É lógico que a comunidade/família é muito importante para a ética ubuntu. Afinal, o ubuntu significa “ser por meio de outros”. Mas o que exatamente “a comunidade/família” significa nesse contexto? Espera-se que uma ética da compaixão seja inclusiva, e não exclusiva, isto é, que ela inclua, e não exclua; que abra espaço, e não aliene. Mas quão inclusiva é a comunidade que o ubuntu descreve e prescreve? Às vezes, é difícil evitar a impressão de que o ubuntu não pretende ser exatamente uma “lei universal do amor”. Por exemplo: o sentido dos ritos de iniciação em sociedades africanas tradicionais parece implicar que o ubuntu funcionava (e ainda funciona) como uma ética vinculativa exclusivamente dentro dos limites de um clã específico. Essa compreensão exclusiva da comunidade que é o ubuntu combina com o óbvio potencial do ubuntu de desencadear conflitos étnicos. Ela (ou uma versão dela) também parece constituir a base da forma pela qual alguns negros sul-africanos tendem a ver o ubuntu como “a” diferença definitiva entre eles próprios como africanos e os não africanos (incluindo as chamadas “pessoas de cor”, asiáticos e brancos).

Ser membro da comunidade que é o ubuntu não parece, portanto, ser fácil para os não africanos ou, ao menos, para os africanos não negros. Os defensores do ubuntu parecem estar divididos no tocante a isso. Em termos gerais, todos eles enfatizam sua inclusividade. Entretanto, alguns proponentes do ubuntu dão a impressão de que, embora a comunidade que é o ubuntu transcenda os limites de um clã específico, ela só inclui aqueles cujas origens estão na África. Outros salientam que a comunidade que é o ubuntu também inclui “estranhos”, isto é, pessoas que não estão relacionadas por sangue, parentesco ou casamento. Por fim, para alguns autores, o conceito africano de comunidade, em seu mais pleno sentido, inclui toda a humanidade. Todos nós (isto é, os vivos e os mortos-vivos ou ancestrais) somos família – ninguém está excluído.

IHU On-Line – O senhor afirma que “a ênfase do ubuntu sobre o respeito pela particularidade é vital para a sobrevivência da África do Sul pós-apartheid”. Nesse sentido, que aspectos o ubuntu ajudou a forjar na sociedade e política sul-africanas? O que poderia ser ainda aprimorado?

Dirk Louw –
O desafio da sociedade e da política da África do Sul é o desafio de afirmar a unidade ao mesmo tempo em que valoriza a diversidade, isto é, de forjar a unidade na diversidade e, igualmente, a diversidade na unidade. O ubuntu ajudou a forjar a unidade na diversidade por meio de sua ênfase na comunidade, expressada por palavras como simunye (“nós somos um”, isto é, “unidade é força”) e slogans como “um dano causado a um é um dano causado a todos”.
 Ele também forjou a diversidade na unidade através de reavaliações criativas desse conceito, que acentuam a importância da alteridade no ethos do ubuntu. Essas reavaliações operam com conceitos de consenso ou de solidariedade que condizem com um regime democrático em comunidades políticas africanas. Talvez seja necessário trabalhar mais nesse sentido. Uma compreensão emancipatória da democracia ubuntu (democracia comunitária) poderá, por exemplo, exigir que os indivíduos recebam tanta oportunidade quanto possível para fazer mudanças e decidir por si mesmos como são governados.
IHU On-Line – O ubuntu também está relacionado ao respeito pela particularidade do outro e ao respeito pela individualidade. Assim, como o ubuntu vê a noção de “outro”? Em um mundo globalizado, o que o ubuntu pode oferecer para que se ultrapassem as diferenças culturais, políticas, econômicas e religiosas entre os povos?

Dirk Louw –
É importante que ninguém seja um estranho em termos do suposto alcance da comunidade que é o ubuntu, dado o potencial do ubuntu para degenerar em um comunitarismo totalitário – isto é, dada a sua tendência de excluir, e não de incluir, como se esperaria de uma ética do cuidado e da partilha. Como uma ética excludente, um ubuntu desvirtuado representa a fortificação e a preservação de uma identidade dada por meio da limitação e da segregação. Nos termos dessa ética, o slogan simunye (“nós somos um”) sinaliza, ironicamente, a pureza de classe, cultura ou etnia; racismo e xenofobia – um fenômeno com o qual os (sul) africanos estão por demais familiarizados.
 O verdadeiro ubuntu se opõe a tendências totalitárias levando a pluralidade a sério. Ao mesmo tempo em que constitui o “ser pessoa” por meio de outras pessoas, ele valoriza o fato de que “outras pessoas” sejam assim chamadas, justamente porque, em última análise, nunca podemos “ficar inteiramente na pele delas” ou “enxergar completamente o mundo através de seus olhos”. Portanto, quando o “ubuntuísta” lê “solidariedade” e “consenso”, ele também lê “alteridade”, “autonomia” e “cooperação” (observe: não “cooptação”).

IHU On-Line – Como o ethos do ubuntu compreende a nossa relação com a natureza e a proteção das vidas não humanas?

Dirk Louw –
O pensamento africano é holístico. Como tal, ele reconhece a íntima interconectividade e, mais precisamente, a interdependência de tudo. De acordo com o ethos do ubuntu, uma pessoa não só é uma pessoa por meio de outras pessoas (isto é, da comunidade em sentido abrangente: os demais seres humanos assim como os ancestrais), mas uma pessoa é uma pessoa por meio de todos os seres do universo, incluindo a natureza e os seres não humanos. Cuidar “do outro” (e, com isso, de si mesmo), portanto, também implica o cuidado para com a natureza (o meio ambiente) e os seres não humanos.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O Império tenta acabar com a liberdade de expressão

A História é uma coisa interessante. Mostra que sempre que um país se torna um portentado, como foi o caso do Império Romano e do Império moderno (USA), muita coisa podre foi elaborada e executada nos bastidores de suas políticas internacionais.
Império a parte, aqueles que constroem modelos de dominação no subsumido mundo da tentativa de controle, fazem seus projetos balizados sempre na truculência, na sordidez, na ambição, na exploração dos outros seres, de outras sociedades, como se estes nada fossem e não representassem outra coisa que não um suporte a mais de domínio.
É por isso que os USA querem calar o WikiLeaks, para que as publicações de elaborações sórdidas e lúgubres sobre o mundo não sejam declarados. Mas com isso, não se calará apenas a "boca" do Wikileaks. A principal "boca" a ser calada será a da liberdade e do direito de sabermos o que pensa o Império e seus asseclas, sobre todos os povos e todas as nações.
É por isso que não podemos aceitar que os USA calem a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão no mundo. Esta é o primeiro dos direitos democráticos de qualquer cidadão no Brasil e no mundo. Somente com esse modelo de liberdade podemos impedir que nos roubem a consciência como fazem certos administradores públicos, políticos corruptos, capitalistas gananciosos...

Liberdade sempre !!!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Esse gato é um filósofo pelo avesso... hehehehe

Esse gatinho fascinante aí em cima, com esses olhos humildes, foi posto aqui para lembrar de uma filha, quando algum guarda de trânsito se aproxima para lhe dar uma multa por alguma violação de trânsito. Parece aquela humildade do bichano do filme Shrek, depois que toma umas cacetadas.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

PORQUE REVENDO IMAGENS?

A ideia de construir um blog me é bem recente. Veio da vontade de expressar algumas coisas que me veem a mente, vez por outra, embora seu lugar no tempo tenha ficado para trás.

É como estar numa situação hoje, que tem tudo a ver com uma outra que já transcorreu, e que você se dá conta de que as duas podem estar interpoladas por um fator sério, ou humorístico, ou duvidoso, e assim por diante. Então, vamos lá. 

Tome lembranças...